segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Baque-Baque

  

Não sou cigana de sinas, mas sou leitora. Leio cada movimento, aprecio cada palavra, testo sabores de pequenos traços revelados, misturo tudo e obtenho panelões de soluções mais ou menos concretas. E de ti - de ti, sim - já guardo estantes de livros, pelo que cada infracção tua já me é familiar. És já partícula mais que conhecida. E como tudo é matéria, um pequeno movimento mais acelerado no teu pequeno coração vai sempre provocar um maior ou menor movimento nas minhas partículas (impulsionadas por todo aquele baque-baque de partícula a partícula entre nós, ...

se estás na China, as tuas partículas do coração batem nos tecidos,
que batem no sangue e em mais tecidos, que batem nos átomos de
oxigénio e azoto, de árgon e vapor de água, de dióxido de carbono
e de ozono, até embater nos electrões daquela madeira, e atingir
a muralha enorme da China, atravessando novamente, com mais
baque-baque, todos os outros países, casas, seres e elementos
geológicos, sempre baque-baque, até tocar nos átomos do vidro
da minha janela, bater nos átomos do ar, infiltrar-se na minha
roupa, penetrar a minha pele, o meu sangue, os meus tecidos e no
fim, o meu também pequeno coração


...por maior que seja a distância). E eu vou sempre, por mais que queiras fugir, saber quando saltas, quando ris, mas também quando choras: então hoje, deixa-me estender apenas a minha mão, tão distante do teu ombro, deixa que o baque-baque faça outra vez o trabalho contínuo e gradual dele. Sente o meu toque, ele já chegou, eu estou sempre aí.

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