sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Life / Death

  

"Não era estranho que ela não soubesse quem era? Não era absurdo não poder decidir nada quanto à sua figura? Tinha simplesmente nascido consigo. Podia escolher os seus amigos, mas não se escolhera a si mesma. Nunca tinha decidido que queria ser um ser humano. O que era um ser humano? (...) Depois de ter pensado um pouco acerca do facto de existir, começou também a pensar que não estaria ali sempre.
«Neste momento estou no mundo.», pensou, «Mas um dia terei desaparecido.»
(...) Não era injusto que a vida tivesse sempre um fim? Sofia parou no caminho de saibro, cismando. Procurou concentrar-se o facto de existir, procurando assim esquecer que não existiria sempre. Mas isso era de todo impossível. Quando se concentrava no pensamento da sua existência, emergia imediatamente a ideia do fim da vida. O contrário era igualmente verdadeiro: só quando se apercebia que um dia teria desaparecido, compreendia claramente que a vida era infinitamente valiosa. Era como as duas faces da mesma moeda, uma moeda que ela virava constantemente. E quanto maior e mais clara era uma face da moeda, maior e mais clara se tornava também a outra. A vida e a morte eram duas faces do mesmo problema. Não podemos imaginar que vivemos sem pensar que temos de morrer, dizia para consigo. Do mesmo modo, é impossível reflectir sobre o facto que temos de morrer sem sentirmos simultaneamente que viver é algo maravilhoso."
Livro O Mundo de Sofia

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